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15/04/2021 - Doenças

O que REALMENTE é uma Intervenção Terapêutica?

Por: Dr Fernando de Freitas


A intervenção terapêutica tem o objetivo de encontrar o verdadeiro problema que está oculto por trás das queixas conscientes. Ele é responsável pela dor inconsciente que alimenta todos os sofrimentos conscientes que o cliente carrega.

Para que o tratamento seja eficaz e duradouro é necessário encontrar a raiz dos problemas e trabalhar nesse nível. Caso contrário, o tratamento deixa de ser na causa e se torna apenas alívio de sintomas para ficar mais suportável por algum tempo.

Para iniciar o atendimento desse tipo de problema eu faço um contrato com o lado adulto do cliente ao perguntar: “Se eu encontrar algo que você PRECISA OUVIR, MAS NÃO VAI GOSTAR DE OUVIR, o que eu devo fazer: FALO OU NÃO FALO?”. Se o cliente concordar, eu continuo. Caso contrário eu encerro o trabalho.

Só o lado adulto do cliente pode ver a realidade e resolver. A origem desses traumas ocorreu quando o cliente estava na sua infância e não teve adultos saudáveis capazes de identificar e ajudar. Em geral, os pais também carregam os mesmos traumas e isso os impede de ver e resolver os problemas que os filhos também carregam.  É um tipo de herança doentia que está presente em todas as famílias problemáticas.

Quando analiso um cliente, eu identifico a relação da mente com o corpo. Dependendo do grau de desconexão entre esses dois elementos há o aparecimento de um terreno fértil para se implantar as sementes das doenças. Nos casos de doenças graves ocorre a seguinte dinâmica: O corpo grita sua dor e implora por ajuda, mas a mente não consegue ouvir e quer apenas se libertar desse incômodo para continuar sua “forma” doentia de viver.

Em síntese, a mente vive numa bolha de ilusão e o corpo fica em contato com a dor da realidade do trauma. Esse mecanismo de defesa em relação à dor ajudou a criança a sobreviver na infância. Só que essa proteção tem um prazo de validade. Tudo que foi escondido vai aparecer no futuro para que o lado adulto possa tirar sua própria criança do trauma.

Se houver um ADULTO SAUDÁVEL, ele se conecta com sua criança e faz o que é necessário para solucionar o trauma infantil e leva-la de volta para a vida. Sai da DOR e vai em direção ao PRAZER da Vida. Isso é o que gera o sentimento de FELICIDADE e HARMONIA que todos almejam.

Mas, se desenvolver um ADULTO DOENTIO, continuará a viver a dinâmica infantil dolorosa. Nessa dinâmica haverá TRÊS CAMINHOS. Ambos estão voltados para o passado:

1.O primeiro é manter o vínculo com seus pais e esperar e/ou cobrar que eles continuem cuidando dele.
2. O segundo é buscar nas relações do presente – amigos, cônjuges, filhos – o que seus pais não lhe deram.
3. A terceira é se apegar ao problema e utilizá-lo para provar que ninguém será capaz de resolvê-lo. Desviam seus pensamentos e emoções negativas para qualquer pessoa que tente tirá-lo do papel de poder da doença. Vou provar ao mundo que ninguém é capaz de cuidar de mim. E tem razão, pois só o próprio indivíduo tem esse poder.

A realidade é que nenhuma delas soluciona o problema e mantém o cliente na PRISÃO DO TRAUMA INFANTIL.

Ao buscar uma ajuda profissional externa há uma série de questionamentos:

• O QUE O CLIENTE PROCURA NO ATENDIMENTO TERAPÊUTICO?
• QUE PARTE DELE QUER CURAR E QUE PARTE QUER SE MANTER NESSE LUGAR?
• QUE NÍVEIS DE PODER, GANHOS E PERDAS TÊM COM SEUS PROBLEMAS?
• QUE PREÇO TERÁ QUE PAGAR PARA SAIR DO DOENTIO CONHECIDO E IR PARA O SAUDÁVEL DESCONHECIDO?
• QUEM É O RESPONSÁVEL PELAS MUDANÇAS?
• QUAL É O PAPEL DO TERAPEUTA E DO CLIENTE?
• QUE TIPO DE TRATAMENTO DEVE SER FEITO: ALIVIAR SINTOMAS OU ELIMINAR A CAUSA?

O QUE VOCÊ ACREDITA que vai acontecer ao buscar um profissional de ajuda? Muitos imaginam que haverá uma mágica salvadora que será capaz de mudar tudo para melhor sem precisar fazer qualquer transformação na forma de PENSAR, SENTIR E AGIR de si mesmos. Creem que estão certos e os outros é que estão errados, portanto, passam para o profissional e para os elementos do sistema o PODER DE CURA. Se não melhorar, é claro que essa responsabilidade é desviada para fora do cliente. Ao abrir mão do seu Poder de Cura, ele bloqueia o verdadeiro processo de transformação.

Para Hipócrates, o Pai da Medicina, o papel do médico é ajudar o cliente a se curar. O VERDADEIRO PODER DE CURA ESTÁ COM O DOENTE. Se o Terapeuta assumir esse poder, ele verá o cliente como incapaz e fará a lição de casa da criança. É assim que muitos processos terapêuticos se tornam uma armadilha que aprisionam o cliente numa RELAÇÃO DEPENDENTE E CODEPENDENTE. O terapeuta se torna Onipotente, Sábio e Forte. Para isso o cliente precisa ficar na outra polaridade complementar: Impotente, ignorante e fraco.

O trabalho terapêutico pode ser feito em dois campos: infantil e adulto. No primeiro o terapeuta vê o cliente como criança e se torna uma figura parental (mãe e/ou pai). O cliente é passivo e o terapeuta é o ativo e responsável. Aqui é a dinâmica descrita no parágrafo anterior. Na segunda o terapeuta e o cliente são ativos e trabalham juntos com o mesmo objetivo. A lição de casa deve ser feita pelo cliente e não pelo terapeuta. O profissional busca recursos internos e externos do cliente para que este possa aprender e solucionar por si mesmo. Aqui o CLIENTE SE TORNA FORTE, POTENTE E SÁBIO. Assim, cria mecanismos para evitar a repetição desse problema e avançar na evolução da sua Jornada de Vida.

Com frequência a vida doentia do cliente o leva para dois destinos terríveis: a MORTE E A LOUCURA. A DOENÇA É UM RECURSO PARA DESPERTAR O INDIVÍDUO PARA A REALIDADE. A doença tem o objetivo de SALVAR O DOENTE DE SUA MENTE DOENTIA. Por isso, o Terapeuta precisa escolher entre dois caminhos:

1. Alinhar com a Mente Doentia e ajudar a remover o que o impede de continuar caminhando para a morte ou a loucura. O preço é a destruição do seu próprio corpo e do prazer de viver. Alinhar com o corpo e ajudar a remover a desconexão mental que impede de tomar consciência da realidade.
2. O preço aqui é a morte da mentalidade doentia e ganhar novos referenciais adequados para reencontrar o caminho natural para a Vida e vivenciar todos os Prazeres que a Vida oferece a quem segue em sua direção.

A relação terapêutica tem muitas RESISTÊNCIAS e OBJEÇÕES. O mais importante não é o que o cliente vê, e sim o que ele não vê e que é responsável pela dor que carrega e que piora constantemente. Essa cegueira que ajudou a sobreviver no passado se torna a prisão do presente e compromete o futuro.

Há uma história onde um viajante se depara com um homem que está sofrendo por ter um prego no seu pé e, ao seu lado, há um amigo sentado. O viajante indignado questiona esse amigo o porquê de não ajudar o sofredor. Aí esse amigo diz: Primeiro o pé e o prego são dele e cada vez que tentei tirar o prego ele me agrediu e disse que eu o estava machucando. Em segundo lugar ele já está com esse prego há muito tempo e está acostumado com ele e acredita que é impossível remover. E, por fim, a dor ainda não está tão intensa a ponto de mudar sua convicção e tomar uma atitude.

A MOTIVAÇÃO PARA BUSCAR A AJUDA NEM SEMPRE É AQUILO QUE A MAIORIA DAS PESSOAS ACREDITAM. Muitos já estão no ponto de mudar e outros ainda não estão com dor suficiente. Alguns até precisam dessa dor para poder controlar vários relacionamentos e encontram muitos ganhos ao permanecer com seus problemas.

Há TRÊS NÍVEIS DE INTENSIDADE DE REFERENCIAIS DOENTIOS que os clientes têm e que geram obstáculos para o sucesso da terapia:

1. Opinião
2. Crença
3. Convicção

A OPINIÃO pode ser mudada diante de fatos novos ou diferentes do que o cliente traz.

A CRENÇA tem uma carga emocional importante e foi desenvolvida para explicar e justificar traumas infantis. Crio uma história e acredito nela para não ver a causa da dor real. Assim, o cliente se apega a essa interpretação e maximiza os fatos da vida que comprovem essa crença. Os fatos que poderiam destruir essas crenças são minimizados e desvalorizados.

A CONVICÇÃO se torna uma obsessão. A pessoa não permite que nada diferente do que ela acredita seja alterado por nada ou por ninguém. Forma um campo intransponível que impede a aproximação de tudo que é diferente daquilo que é a SUA REALIDADE. E, para manter sua bolha de ilusão, ataca qualquer coisa que identifique como uma ameaça à sua forma de Sentir, Pensar e Agir. São capazes de tomar diversas atitudes para manter distância e desqualificar qualquer coisa que possa destruir seu universo.

Entrar no universo mental e emocional do cliente é uma arte e não há uma fórmula mágica que sirva para todos os casos. Ao lidar com Crenças e Convicções Doentias não basta trazer fatos e informações. Isso pode ser útil para aqueles que ainda estão nas Opiniões e Crenças menos resistentes. No fundo eles esperam que a terapia comprove e caminhe com seus referenciais doentios.

As pessoas que estão nas Crenças e Convicções sentem que se saírem dessas instâncias entrarão em uma dor insuportável e talvez até possam morrer. Por isso se apegam tanto a essas tábuas de salvação. Nestes casos há um caminho possível que é TRAZER DÚVIDAS para seus referenciais. Com arte, é possível implantar algumas informações importantes na mente deles e que ficará constantemente minando as várias certezas que foram cultivadas por muitos anos.

Quando essas sementes de realidade entram nesse campo mental do cliente e começam a crescer, ocorre um conflito que tem o grande objetivo de identificar e remover o vírus desse computador. Nessa fase é comum ocorrer uma REAÇÃO DE DESQUALIFICAÇÃO que pode ser classificada em QUATRO NÍVEIS:

  1. O profissional não é bom. Assim, tudo que sai dele não tem valor
  2. O diagnóstico está errado. Se não dá para desqualificar o profissional, pode-se questionar o diagnóstico.
  3. O tratamento está errado. Bom, o profissional e o diagnóstico podem estar certos, mas a conduta está errada.
  4. Eu não consigo fazer isso. Aqui há a própria desqualificação. Se não der para desqualificar as três anteriores, só resta acreditar que não sou capaz de fazer o que precisa ser feito.

Quando ocorre qualquer nível de desqualificação é um sinal positivo de que algo está em movimento e que a medicação está começando a fazer efeito. Isso é muito bom para o cliente. A dinâmica doentia está reagindo para sobreviver, mas, progressivamente as dúvidas implantadas vão revelando a diferença do que é doentio e do que é saudável.

Georg Groddeck, o pai da Psicossomática moderna, diz que QUEM TEM MEDO DA DOENÇA E DA MORTE NÃO DEVERIA TRABALHAR COM ELAS. Se o próprio terapeuta traz crenças e convicções doentias, ele deveria se tratar primeiro para poder realmente ajudar seus clientes. UM TERAPEUTA SAUDÁVEL DEVE SER PARTE DA SOLUÇÃO E NÃO DO PROBLEMA DO CLIENTE.

Para ser um TERAPEUTA, primeiro ele precisa aprender a SER ADULTO. Assim, ele saberá:

Ter AMOR PRÓPRIO.
cuidar da sua própria criança.
Ser o Pai e a Mãe que sua criança precisa.
Aprender a falar SIM E NÃO.
Fazer o que precisa ser feito e tomar cuidado com aquilo que “quer”.
Orientar e harmonizar o Sentir, Pensar e Agir.
Aprender com os erros do Passado e tomar as melhores decisões no Presente para ter um Futuro melhor
Ter objetivos claros de Vida
Desenvolver segurança dentro de si mesmo
Ter CORAGEM para seguir em frente e AVANÇAR para as várias fases evolutivas de Vida
Formar Vínculos Saudáveis
REVERENCIAR AS LEIS NATURAIS DA VIDA.
COMO AJUDAR DE VERDADE QUEM O PROCURA.

Isso foi o que aprendi com todos meus mestres. Isso foi o que me ajudou profundamente a sair do meu próprio mundo doentio repleto de ilusões, crenças e convicções que tanto me destruíram e comprometeram meus relacionamentos familiares e profissionais. Isso me ensinou a Viver de uma forma mais saudável. Isso se tornou um propósito de vida.


Espero que você também encontre esse caminho.

Fernando de Freitas